Nova York Delirante: Parte 3 [frio, vento e chuva]
Chegamos à parte mais gelada da viagem!
Domingo e segunda foram dias de frio, vento e chuva. Uma coisa minha mente ansiosa sempre me fez questionar, desde a primeira viagem “grande” que fiz: e se chover? Ou, mesmo, e se o tempo não estiver bom?
Nova York, meus amigos, respondeu todas essas perguntas de uma vez só. Não foi apenas um dia frio, foram dias frios, chuvosos e com tempestades de vento. Que serviram para eu entender uma coisa: a gente sempre dá um jeito!
Esses dias começaram com uma intensa lamentação do porquê não havíamos levado guarda-chuvas (embora eu ache essa resposta meio óbvia – quem gasta espaço de mala com guarda-chuva?) e a decisão de não apenas comprarmos guarda-chuvas, mas também casacos mais pesados. Havíamos, sim, levado os nossos casacos brasileiros mais quentes e algumas camadas para usar por baixo, mas não foram suficientes.
Foi assim que conhecemos uma loja chamada Century 21th, que depois descobrimos ser uma das favoritas dos brasileiros, também no nosso já querido Brooklyn City Point. Definitivamente não estava em nossos planos comprar casacos, mas fizemos ótimos negócios. Não sei se posso dizer que a Century 21th é um outlet, mas é como se fosse. É uma grande loja de departamento que reúne diversas marcas (inclusive bem famosas) com preços mais baixos. Aliás, aproveitando o assunto, essa área do Brooklyn onde estávamos (acho que se chama Boerum Hill) é cheia de outlets e de lojas como a H&M e a TJ Max. Como não somos muito das compras, fomos apenas no outlet da Banana Republic, marca que gostamos bastante (e incrivelmente me cai muito bem) e realmente valeu a pena.
Mesmo com o mal tempo conseguimos chegar ao Central Park e passamos um tempo bem gostoso por lá! Estava acontecendo um casamento ao ar livre, num gazebo do parque, e eu fiquei encantada! E também com dó da quantidade de noivas com vestidos decotados fazendo ensaios pre-wedding, que fomos encontrando pelos caminhos hehehe
A ideia era subir até a área do parque em que conseguiríamos sair pela 5a Avenida na altura dos museus (começava minha jornada para chegar ao Guggenheim), mas no meio do caminho desistimos. Era muito vento.
Ainda assim saímos pela 5ª Avenida e fomos andando por ela inteira, rumo a um dos restaurantes mais aguardados dessa viagem, o Hangawi! Pode parecer bobo que tenhamos passado umas três horas apenas andando pelas avenidas, mas acredite: não é! Nova York, afinal, é isso. É a cidade, são os pequenos acontecimentos, é descer ou subir as avenidas e entrar aqui e ali, ver um prédio marcante, uma vitrine icônica – como a da Tiffany’s, por exemplo! É ver os bairros mudarem e as características de um e outro tornarem-se cada vez mais acentuadas.
Por fim, chegamos ao Hangawi um pouquinho mais cedo do que o previsto e tivemos a confirmação de um fato muito presente nessa viagem: é realmente necessário reservar os restaurantes. No total da viagem devemos ter reservado talvez uns quatro restaurantes e eu fiquei pensando como é a lógica de organizar essas reservas. Tentamos entender qual o tempo médio que cada mesa fica sendo utilizada, já que o ir e vir de pessoas é um verdadeiro jogo e as mesas estão sempre cheias.
O Hangawi é um restaurante coreano vegetariano. Da nossa lista, era o que mais queríamos conhecer, afinal trazia premissas bem diferentes da maioria do que já havíamos conhecido até então.
A experiência permeia cada detalhe do local. Iniciamos tirando os sapatos e os guardando numa grande prateleira da entrada, para podermos acessar um deck suspenso onde as mesas estão num nível abaixo e os bancos “encaixados” abaixo do nível do chão. Apenas esses detalhes iniciais já nos fazem entender que a experiência ali é diferente (e bem diferente!) do que estamos acostumados!
Não pedimos ajuda, mas admito que é bem difícil de escolher o que pedir. Pelo menos pra gente era tudo muito diferente e algumas coisas não fazíamos nem ideia do que poderiam ser. Mas fomos arriscando, afinal estávamos protegidos pelo fato de ser um restaurante vegetariano! Não tinha muito como dar errado.
A princípio pedimos dois drinks, ambos com soju, uma bebida alcóolica nativa da Coréia, extraída do arroz. O Paulovic pediu um chamado Nirvana, com chá e extrato de gengibre (gostosa, mas um pouco “ácida” demais pra mim) e eu pedi o zen blossom, com lichia, flor de sabugueiro e vinho de lichia, que estava muito gostosa! Bem leve, não muito doce.
Ficamos tentandos a pedir várias entradas (fazemos muito isso – ir num restaurante e não pedir prato principal, ficar só pedindo entradas), mas decidimos conhecer o menu principal também.
Com isso, infelizmente, pedimos apenas uma entrada que, olha, deixou saudades… Foram os vegetarian dumplings. Dumplings são tipos de “bolinhos”, por assim dizer, feitos de forma diferente em cada lugar do mundo (talvez seja uma heresia o que eu vou falar, mas eu arriscaria dizer que nossos pastéis seriam nossos dumplings). Nesse caso eles pareciam pequenos pastéis em forma de meia lua, assados no vapor – uma massa tão fininha que chegava a quase ser transparente -, recheados com pedacinhos deliciosos de vegetais! Uma maravilha. Sério. Sério mesmo!
Se escolher a entrada já foi difícil, imaginem então os pratos principais! Depois de olhar o menu de cabo a rabo, resolvemos ficar nos “rice bowls”, unindo a nova experiência a uma paixão já antiga: os bowls com arroz.
Eu pedi o Spicy kimchi stone bowl rice, “kimchi” é um preparado com repolho e como eu amo repolho, fui influenciada! O Paulovic pediu o Todok stone bowl rice. Ambos muito parecidos, com a diferença do meu ter o repolho (que veio separado) e o do Paulovic ter o “todok” (sinceramente até agora não entendi direito o que era, mas foi um tipo de vegetal (??) a mais). Chegaram dois bowls de pedra de verdade, quentíssimos (tão quentes que podíamos ouvir o arroz fumegando, enquanto grudava maravilhosamente nas paredes de pedra dos bowls). Sobre o arroz, os vegetais, e ao lado deles o molho picante. Quando menos esperávamos, após nos servir, o garçom pegou duas colheres e misturou, quase que como numa dança compassada, todos os ingredientes formando uma mistura única e maravilhosa! O aroma de tudo isso perfumava o ar. A essa altura, nossos estômagos já roncavam!
Sim, foi tão bom quanto parece. Uma mistura de arroz e vegetais incrivelmente temperados! Ah, e o arroz que ficou queimadinho e grudado no fundo? Pra esse não tenho nem comentários…
O Hangawi, para os nossos padrões, é um restaurante caro, mas que valeu tudo que foi investido! Do início ao fim uma experiência única, desde o ambiente, o nível de iluminação (baixo demais pra conseguirmos tirar fotos boas, mas suficiente para vermos a comida com todos os detalhes e na medida para a conversa das mesas ter um tom baixo e confortável, mantendo o ambiente gostoso). Não sei como seria a experiência para um carnívoro, mas como pessoas que comem pouquíssima carne (no meu caso, que nem carne vermelha come) simplesmente amamos! É incrível lembrar que era só arroz e vegetais… Principalmente se você for vegetariano, não precisa pensar duas vezes! E não esqueça: faça a reserva!
Voltamos pro hotel no mínimo felizes!
Para o próximo dia, segunda-feira, já tínhamos planejado ir novamente ao Museu de História Natural, que havíamos conhecido na vez anterior. O primeiro motivo é que dessa vez o planetário estaria aberto – o segundo é porque é sempre bom ver uns dinossauros. Vou resumir nossa passagem pelo Museu em: uma fila enorme num frio cortante (muito frio, muita chuva e muito vento MESMO) que nos fez agradecer por termos escolhido aquele dia pra ficar dentro do museu e achar que tudo bem passar a tarde toda lá, a exposição no planetário, que foi super legal, uma exposição com borboletas, em que você entra numa estufa e é rodeado por borboletas – que poderia ser legal se não fosse super quente e úmido lá dentro e se eu não tivesse ficado com muito dó das borboletas – e algumas outras exibições claramente feitas pra crianças. Mas valeu pela proteção do frio, devemos ter ficado facilmente umas quatro horas lá, porque quando saímos já era final de tarde.
A ideia inicial era atravessar o Central Park rumo ao Guggenheim (não falei que ia começar minha saga pra chegar até ele?), mas se no dia anterior desistimos, na segunda era apenas completamente impossível ficar no parque, por conta do frio, do vento e da chuva. Resolvemos, então, mudar os planos e ir em busca do meu tão esperado penne alla vodka, um dos meus pratos preferidos da vida, perfeito para um dia como aquele! Já tínhamos selecionado um restaurante chamado Carmine’s, que diziam servir o melhor penne alla vodka de Nova York! Confirmamos se havia mesas (afinal era um horário estranho, tipo cinco da tarde) e seguimos para o Carmine’s do Upper West Side, bem perto dali. Encaramos o caminho a pé mesmo.
Entramos no Carmine’s como quem entra numa casa de vó aconchegante! A vibe do lugar, a decoração, tudo é feito pra isso!
Eu pedi um espumante (não resisto às bubbles, mesmo em dias de frio), o Paulovic um vinho tinto (mais sensato é o Paulovic) e juntos um único prato de penne alla vodka e nada mais – já havíamos lido que os pratos lá eram grandes e o próprio garçom nos avisou que seria suficiente para três pessoas. Obedecemos, sabiamente. De cortesia ainda ganhamos muitos pãezinhos gostosos na mesa, de entradinha. O show do carboidrato! Uma maravilha!
Não tenho um conhecimento tão extenso em pennes alla vodka, mas com certeza aquele foi o melhor que já comi! E a decisão de pedir um único prato foi absolutamente acertada! Comemos muito (e olha que eu não sou de comer pouco) e sobrou quase metade… Se tivéssemos como levar pro hotel, com certeza teríamos levado.
Assim como no Hangawi, tudo no Carmine’s foi acertado! Da decoração ao garçom super simpático, que voltou da cozinha com a receita do alla vodka anotada num pequeno pedaço de papel, em caneta azul. Quer mais aconchego que isso?!
Saímos por volta das 18h30, com um tempo bem melhor do que quando chegamos. Incrivelmente energizados (afinal, energia dentro de nós não faltava naquele momento), resolvemos ir ao Financial District, onde eu queria muito conhecer o hub de transportes projetado pelo Calatrava, que eu havia visto sendo construído em 2015. No meio do caminho poderíamos passar pelo Eillen’s Special Cheesecake e comer o melhor cheesecake de Nova York! Afinal, já estávamos na chuva e já estávamos molhados, o que mais tínhamos pra perder?!
Entramos no metrô no Upper West Side e saímos na região de Lower Manhattan, a ideia era passar no Eillen’s e ir a pé até o Financial District, aproveitando o finzinho da luz do dia.
Eu sou suspeita para falar sobre cheesecake. Em geral gosto de todos, sem grandes cerimônias! Gosto muito dos da Cheesecake Factory, por mais “comida de rede” que ela seja – gosto inclusive da comida também – mas o Eillen’s foi uma dica que tivemos em 2015 e que vamos levar pra vida! Se não é o melhor cheesecake de Nova York de verdade, pra gente sempre será!
São muitos tipos! Precisaremos de várias viagens pra conseguir provar todos os sabores, que vêm em porções individuais (mas daquele jeito meio norte-americano, né? Bem generosas!). Dessa vez eu pedi o de salted caramel e o Paulovic o de caramel pecan. Ambos deliciosos! Caramelo salgado é, pra mim, um sabor sempre sem erro! Caramelo já é delicioso, com o toque de sal para ficar com o sabor ainda mais intenso é incrível! Mas devo confessar que a escolha do Paulovic estava ainda melhor que a minha! Noz pecan também é outro sabor irresistível!
Ah! E como a foto mesmo mostra, o Eillen’s é um local super simples. Tem pouquíssimo lugar pra sentar, sendo em sua maioria cadeiras numa bancada alta. Os cheesecakes são servidos em pratos de papel e você mesmo pega talheres descartáveis e guardanapos.
De lá fomos andando um pouco mais até resolvermos pegar um metrô e encurtar o caminho.
Aqui vou fazer uma pausa, porque ela existiu de fato. Em 2015, quando estive pela primeira vez no Memorial do 11 de setembro, vi que havia uma obra do arquiteto Santiago Calatrava sendo construída, que seria um hub de transportes/shopping center. Àquela época, me lembro de ter achado o formato do prédio um pouco estranho e ter achado que talvez não fizesse muito sentido ali onde está inserido.
Hoje o Calatrava é um arquiteto um pouco polêmico. Foi ele que projetou o Museu do Amanhã no Rio de Janeiro e é bem famoso por suas pontes esculturais, como a Ponte da Mulher, em Buenos Aires – a minha preferida de todas. Fato é que, com tantas obras pelo mundo, é de se esperar que algumas sejam boas, outras maravilhosas, uns pares meio duvidosas. Em alguns momentos o Calatrava acertou, em outros errou feio. Algumas dentro do budget, outras muito caras, enfim. Uma série complexa de obras mundo afora. Eu, que amo estruturas, sigo gostando bastante das obras do Calatrava como um todo, e não poderia deixar de ver com meus próprios olhos, essa obra que já foi tão falada.
Confesso que cheguei livre de expectativas, pois sobre ela tinha ouvido falar mais aspectos negativos do que positivos, e foi então que a pausa aconteceu.
Quando eu saí do metrô e dei de cara com a obra, fiquei sem palavras por um momento. Ela me tirou o fôlego. A maneira como seu formato de pássaro dialoga com o Memorial e o que ela representa inserida naquele contexto estão numa comunhão tão grande que é indescritível. Algo que é preciso sentir. Na verdade, algo que é preciso deixar ser sentido.
Para além de discussões de orçamento, para além de discussões das obras de um arquiteto, a força plástica daquele prédio é maravilhosa!
O Memorial é outro local imperdível. É de uma delicadeza ímpar. O local onde antes era uma das torres gêmeas e que hoje é um “rio de lágrimas que não cessam nunca” é a homenagem mais linda que já vi em toda a minha vida. Conheci em 2015 durante o dia e esse ano durante a noite, o que parece ter deixado tudo ainda mais lindo.
E foi assim, depois de tantas experiências nesses dois dias, de tanta comida boa, de encontros emocionantes e muito frio, vento e chuva, que finalizamos a parte gelada da viagem! Voltamos ao hotel ansiosos pela terça-feira, primeiro de maio, quando começaríamos nossas comemorações de aniversário de casamento (comemoramos sempre o dia 1 e o dia 2 de maio, pois as datas de aniversário de casamento e de namoro são as mesmas, e o namoro começou meio que num limbo entre um dia e outro e se podemos comemorar por dois dias, por que comemoraríamos apenas por um?).
Nessa madrugada, alguma coisa muito estranha aconteceu com o clima. Acordaríamos na terça-feira com um sol intenso e quase 30 graus. Mas isso fica pra depois!
Se você chegou até aqui, muito obrigada!! Nos vemos semana que vem, com a parte mais romântica da viagem! ❤